segunda-feira, 3 de outubro de 2016

RODRIGO: Mudar ou ficar? Ir ou não ir? Sim ou Não?

Olá meus caros!! Depois de alguns pedidos da Flavinha, eu resolvi atendê-la e escrever um post no blog :)

Porém, a abordagem vai ser um pouco diferente! Vou tentar dar uma visão mais ampla de como é o dia-a-dia na Polônia (Cracóvia), e também dar um pouco do meu ponto de vista da parte social daqui.

Lembrem-se que estou na Polônia a apenas alguns meses, então algumas das opiniões não são muito profundas e poderão mudar com o tempo. Então, NÃO LEVEM TUDO AO PÉ DA LETRA SEUS ARROMBADOS.

Vamos a pergunta que interessa: Vale a pena vir para Polônia?

A resposta fica num buraco bem mais embaixo, que vai depender da sua personalidade, força de vontade, bolas, crença e outras merdas. Como vários amigos meus já fizeram essa pergunta (o que é justo), nada melhor do que eu entrar nos detalhes aqui e deixar cada um decidir a resposta por conta própria, visualizem uma balancinha na cabeça de vocês e distribuam os pesos.

A realidade é que o Brasil enfrenta uma crise de bosta nos últimos dois anos. Não quero entrar em muitos detalhes políticos para não ter ter muito mimimi, então a maneira superficial que irei debater é INTENCIONAL. Pessoalmente, me decepciona muito um país do tamanho do nosso, ter uma moeda mais fraca que países com um terço da nossa economia. Me decepciona ver que países como Chile/Colômbia/Peru, que juntos não dão o Brasil, serem economicamentes mais estáveis. Não quero entrar nos porquês, só quero deixar claro que isso me decepciona, rs.

Preciso deixar claro também que a minha ideia de sair do Brasil se deu muito antes da crise. Então ela não tem nada a ver com a situação atual do país e muito menos somente pelo dinheiro. Então viadinho, se você está pensando em deixar o país primordialmente por grana, o primeiro conselho que te dou é: PENSE BEM SOBRE ISSO!

Apesar do Brasil ter uma moeda mais fraca que os países citados acima, acredite ou não, o Real ainda vale mais que o Zloty (moeda daqui). E não acho pouco não, o Real é em torno de 10% mais valioso. E confesso que estando aqui, eu não consigo entender porque. A economia da Polônia flui, existe DEFLAÇÃO aqui, produtos básicos de consumo são baratos, a desigualdade social é baixa e diversos outros fatores mais. Mesmo assim o real ainda vale mais. Curioso não?

Uma das perguntas que sempre faço: Por que a Polônia é considerada o país com a economia mais fraca da UE? Sendo que quando visitei os países ao lado, não vi muita diferença no estilo de vida das pessoas. Os dois motivos que normalmente me respondem são: Fator segunda guerra, que acabou com a economia do país e o fator conservadorismo do governo.

Esse é um dos motivos que vocês devem pensar se querem sair do Brasil. Acredite ou não, a política da Polônia é tão (ou mais) conservadora do que a do Brasil. É um país muito ligado a igreja, com muitas políticas doutrinadas em religião e assistencialismo ao povo. Assim como no Brasil, muita gente reclama disso, porém a maioria ainda segue essa realidade. Se você reclama das políticas brasileira, em curto prazo você vai sentir as mesmas frustrações na Polônia. Conversei com diversas pessoas entre 24 a 35 anos que mostram bem como existe essa divisão entre 'conservadorismo religioso e a laicidade do Estado'.

Mas em geral, se você é muito religioso, acredita que o Estado deve "respeitar" Deus, acredita na família como "bem maior" e o estado protecionista do povo (tomando muitas decisões por você), então você vai se adaptar rápido com a política daqui. E se você não acredita muito isso, eh uma das coisas que você vai precisar aceitar. Isso conecta no próximo ponto:

Se você tem um nível baixo de tolerância com opiniões contrárias as suas, nao saia do Brasil, isso é sério! Se você já enfrenta problemas com os amiguinhos que pensam diferente de você por aí, imagina você ter que engolir a seco a cultura/modo de viver de outras pessoas que nem falam a sua língua? Isso nao é fácil amigão. Se você não consegue evitar xingar o coleguinha que não pensa igual você, você vai sofrer aqui e muito. Sabe por quê? Porque apesar de ser um país extremamente conservador, a grande maioria das pessoas VIVEM MUITO BEM AQUI. Se você culpa o Estado pela merda que está o Brasil, você vai ver aqui que dá pra viver bem com um governo bem próximo ao que você tem hoje.

Eu já cansei de falar que o problema do Brasil é o Brasileiro. E isso não muda agora: Se temos políticas econômicas parecidas e valores de moedas parecidas, porque a Polônia destrói o Brasil em qualidade de vida? A diferença está no povo. E isso é outra coisa que você tem que pôr na balança.

Assim como a maioria do povo europeu, o Polonês em sua parte é FECHADA (Aqui pra quem é de Curitiba não será uma novidade). O ser fechado pode parecer ruim a primeira vista, porém isso leva a outros pontos. O Polonês respeita o individualismo do outro, respeitar o que é de bem público e compartilhado. O povo se respeita apesar das diferenças. O que eu quero dizer é o seguinte: Você não vai ver um Polonês tentando te humilhar só porque você pensa diferente dele. Isso muda muita coisa em relação aos relacionamentos entre pessoas aqui.

Então, fica claro que a "amizade" é bem seletiva e pouco por necessidade. Falo isso para caso você seja alguém que não consegue ficar 1 semana sem ver seus amigos, você precisa pensar que aqui você pode ficar meses sem sair com as mesmas pessoas. E pode levar um bom tempo até que você consiga formar amigos que vão te chamar sempre pra sair. Você precisa se aceitar sozinho antes de pôr seu pezinho pra fora do Brasil.

Você vai ver quando sair também, quem são seus amigos mesmos. Hoje eu me pego muito mais mandando mensagem só pra saber como meus brothers estão do que antes. Porém, eu já não falo mais com uma grande quantidade de pessoas que eu falava diariamente. Esteja preparado pra passar isso também :)

Outra coisa que difere muito a Polônia do Brasil, é o modo de vida das pessoas. O Brasileiro é um povo que se preocupa muito com a imagem, em "parecer ter" as coisas, mesmo que não consiga pagar. Você precisa manter o seu "STATUS", aqui isso PRATICAMENTE NÃO EXISTE. Pode parecer bobeira, mas só estando aqui você vai ver o quanto isso influencia na economia. A maioria das pessoas NÃO TEM CARTÃO DE CRÉDITO E NÃO PARCELA as compras. Isso foi um choque tremendo para mim no começo. Porque faz parte da natureza do Brasileiro parcelar as paradas em 10x. Aqui eles veem isso como "comprar sem ter dinheiro pra comprar". O que eles fazem no caso é: GUARDAR DINHEIRO ATÉ DAR PRA COMPRAR. No Brasil é praticamente impossível isso (me incluo nessa estatística), por diversos fatores. O mais claro pra mim é o tal do Carro. Quase ninguém troca de carro de 5 em 5 anos (No brasil tem gente que troca a cada 2). Eu já vi mais fiat 147 do que em Curitiba! O povo usa os bens até não dar mais mesmo (Minha mãe vai adorar ler isso). Felizmente, estou conseguindo me adaptar a essa realidade.

Aqui, você precisa guardar dinheiro. Não tem FGTS pra te salvar caso você seja demitido. Então se curte gastar sua grana de maneira ostensiva, terá que tomar cuidado aqui. Minha conta bancária nunca teve tanto dinheiro guardado, mesmo com os altos gastos iniciais de chegada, ainda sobra uma boa grana por mês. E a conta cresce um pouquinho todo mês, isso que a Flávia não está trabalhando ainda hein! Confesso que tem momento que eu ainda fico pensando em comprar algo só porque o dinheiro tá ali! Não é algo muito simples de mudar. No Brasil existe uma ansiedade coletiva em gastar dinheiro haha.

Já que entrei nesse assunto, vou falar como é conseguir dinheiro na Polônia. Esse relato é completamente baseado na minha experiência e na atual empresa que estou. Lembrem-se que as empresas são feitas de pessoas em geral polonesas, o que traz a cultura de vida deles pra dentro do trabalho. O principal é sempre respeitar o espaço do outro. Isso se aplica no ambiente de trabalho também. Aqui, é raro ver alguém cuidando do trabalho do outro. Micro gerenciando. Reclamando da maneira que você trabalha. Se você não está invadindo o espaço do outro, trabalhe e seja feliz. Aliás, ser feliz no trabalho parece ser algo muito importante por aqui. Pelo menos na atual empresa que estou, você se surpreenderia como ela está preocupada em manter você feliz FORA do trabalho. Além de respeitar completamente suas horas livres, há diversos outro incentivos da empresa para que você gaste o seu tempo livre fazendo coisas que você realmente gosta PATROCINADAS pela empresa.

Pelo menos nisso posso dizer que fui feliz em vir pra cá. A balança empregado-empregador é muito mais justa do que no Brasil. E o melhor, acontece naturalmente, ou pelo menos a empresa faz parecer assim. E felizmente você consegue acreditar nisso porque há  transparência entre empresa-empregado. No Brasil é muito comum empresas prestadoras de serviço esconderem informações de seus funcionários e apenas "ordenar" as coisas (Leve ps: Isso se dá a maneira patriarcal das empresas do brasil, onde em geral, elas se vêem como provedoras e não colaboradoras) sem abrir espaço para questionamento. Para vocês terem uma ideia da diferença para cá, em uma das reuniões que eu tive, mais da metade da equipe se revoltou apenas porque iria mudar a maneira de "Preencher as horas no sistema”. Como consequência a gerente gastou 40 minutos explicando para todos o porquê da mudança (inclusive dando razões vindas do cliente), só parou quando todos estavam satisfeitos com as respostas.

Toda essa transparência vem com uma respresponsabilidade agregada. A empresa ESPERA que você seja capaz de ser honesto, franco e independente (Falo isso por no Brasil é MUITO comum ver empresa mentindo pra empregado e vice-versa, honestidade e transparência não é algo muito comum em negócios brasileiros). Isso quer dizer que se você precisa de um chefe pra te acompanhar o tempo todo, não consegue se auto-gerenciar e ir atrás das coisas, você vai enfrentar uma certa dificuldade. O fator independência é bastante valorizado em qualquer situação. A maioria das pessoas que trabalhei de perto iriam se dar muito bem trabalhando aqui. Como as tarefas são muito bem divididas e balanceadas, você nao se sente sua energia sugada por trabalho. No fim, sua vida fica mais leve.

Quando falo sobre "vida mais leve", nao é só relacionada ao trabalho, é claro. A segurança e infraestrutura ajudam muito nisso. E facilmente esse é um peso a favor de vir da Polônia. Como não quero falar muito qual é a enorme diferença relacionada a isso, vou deixar só um exemplo: Uma vez, estava bebendo com uns colegas de trabalho por volta de 01:30 da manhã. Quando vimos uma menina de 25 (ou menos) anos, andando de bicicleta numa rua escura com roupa de verão, rs. Esse exemplo já consegue mostrar pra mim o quão segura ela se sentia nesse momento. Então é óbvio meus queridos: A Cracóvia é MUITO MAIS segura do que o Brasil, tão mais que nem vale a pena tentar discorrer muito sobre isso.

Finalizando, a única parte realmente complicada é a língua. Por dois principais motivos: O primeiro é que a língua É FODA PRA CARALHO de aprender, e o segundo é que não é muito "produtivo" aprendê-la. Só se fala polonês na Polônia, e se você não está certo que irá viver nela pro resto da vida, porque aprendê-la? Eu estou fazendo aulas e lentamente melhorando porque a empresa da 2 aulas de graça por semana. Porém, se eu precisasse ir atrás disso por fora, confesso que não iria. Apesar de muitos jovens falarem inglês, você ainda vai precisar do básico para fazer compras e ser "mais respeitado" pelos poloneses. Aprender o basico também demonstra que você se preocupa em tentar usar a língua do país que está te abrigando.

Como já escrevi demais, vou parar por aqui. Com certeza existem muitos outros fatores a se pensar a respeito de mudar de país, principalmente quando se fala em ir pra Polônia. Comecei com os principais (na minha opinião), porém, topo escrever sobre mais coisas se vocês viadinhos quiserem saber. Então lanço um desafio pra quem conseguiu ler até o final: Deixa um comentario ai sobre algo que você imagina que possa ser algo que faria você sair ou não do Brasil, que no próximo post eu vou respondendo.

Espero que tenham gostado :)

#paz

12 comentários:

  1. Rodrigo, meu amigo.
    Aqui estou em Pinhais, já considerada por muitos a terra da bala, mas hoje uma das maiores potências paranaenses hahahaha.
    Admito que eu estava esperando (muito) você escrever, para saber seu ponto de vista e entender um pouco mais o que está achando da Polônia. Aliás, parece que você e a Flávia se completam até na hora de escrever. Ela apresenta a cultura, lazer e trabalha com nossa imaginação. Você trazendo a realidade da qualidade de vida, exemplificando e falando um pouco do pensamento de parte dos trabalhadores Poloneses, relação empregador x empregado. Gostei muito, sou seu fã, continue escrevendo lindão.
    Eu e a Rô não vemos a hora de viajar pra ver vocês.
    Como tema para um próximo post, tenho um assunto. Quero saber se já teve vontade de montar uma empresa na Polônia. Se sim, conte o que aprendeu sobre, se não, diga o porquê (perfil, interesse, oportunidade).
    Essa seria uma das coisas que me fariam sair do Brasil, país da zoeira. Quem sabe abrir uma filial polonesa não seja uma ideia tão maluca.
    Outra...conte um pouco sobre os brasileiros que conheceram aí, se algum deles está descontente com alguma coisa ou passando dificuldades.
    Mais uma... escreva algumas palavras comédias hehe

    Beijos e abraços
    Saudades mil

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  2. Adorei a participação especial! Blog fez jus ao nome!

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  3. Rodrigo, AMEI sua visão!! Estou comentando aqui, conforme sua sugestão só paga eu falar: antes mesmo de você escreve este post, e já ter lido os da Flavinha e visto as postagens dela no insta, quero fugir desse Braseeel!! Jesus!! Me leva!? ;)

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  4. Oi Rodrigo,
    Achei legal o post, muito interessantes as comparações entre Polônia e Brasil (por mais que eu discorde da sua opinião dos primeiros parágrafos sobre economia hehe)!
    Quando morei na Belgica tive contato com pessoas de todo o mundo, mas me identifiquei demais com os meninos da Polônia: acho que, como no Brasil, existe uma preocupação dos jovens em se esforçar e se dedicar para conseguir competir no mercado de trabalho e obter um bom emprego. Aqui na Alemanha, por exemplo, as pessoas sempre me preceram meio pouco ambiciosas e mais despreocupadas com a carreira, visto a rede de benefícios provida pelo estado. Ou seja, como você mesmo falou, tudo tem seu lado bom ou ruim!
    Torço muito pra que você e a Fla consigam tombar essa balança imaginária pro lado das coisas boas!
    Um beijo e boa semana!

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  5. Muuuuuuito nice, deu vontade de viver aew bro :D

    fala pra gente sobre os role que tem pra fazer ai, vida noturna e esportes, os cara se reune pra assistir jogo no bar?

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  6. Consegui ouvir sua voz narrando toda essa história seu ARROMBADO! HAHAHA
    Mas falando sério, tirando o fator religião, mesmo tendo uma igreja em cada esquina aqui e morando em países completamente diferentes o fator pessoas, segurança e poder aquisitivo são extremamente iguais. O fator pessoas já me fez pensar que o Brasil é um lugar muito legal e feliz demais para viver sem pelo resto da vida, mas quando se pensa em estabilidade, segurança, poder de compra, justiça e até chatices por serem tão corretos esse contraste radical de culturas vale muito a pena.
    Eu sinto que nunca estarei 100% realizada aqui ou no Brasil e esse sentimento será eterno porque nunca dará para juntar a parte boa de cada um dos países. O que posso dizer é que existe um perfil certo de pessoas que vai se ajeitar e fazer dar certo morar fora e outros que não.
    Enfim, é uma montanha russa de emoções que a gente vai se adaptando diariamente.
    Saudades Kenshin. Aqui nunca vai rolar uma cantoria frenética do Bon Jovi na balada ou um encontro Arcade mas assim segue a vida...

    Regiane Ragauskas

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  7. Bom, como pode notar eu li até o final hahah. Cara, eu iria pela segurança (que se traduz em qualidade de vida, no meu modo de ver) e por me permitir fazer economia, coisa que é praticamente impossível aqui no BR. E se tu viu o resultado das urnas, temos aí mais um motivo hahaha. There is no fucking hope.

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  8. Fala meu nobre. Primeiramente parabéns pela coragem de encarar isso tudo. Como li ate o final, quero sugerir o tema "mercado de trabalh0" ou "como arranjar um trampo melhor que a bosta que me escravizam no Brasil com um transito de merda, um transporte de merda, uma segurança de merda e meu bolso na merda".

    Estarei acompanhando.

    Abraço

    Vinicius Menestrel

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  9. Fala maninho!
    Hoje mesmo o Anand e eu estávamos lembrando de quando você achou uma cobra no lago. Já achou cobra por aí?
    Muito bom texto! Alguns erros de concordância mas eu sou de QA e você me perdoa.
    Eu desisti do BR em 2005, já morei fora sem casa, sem emprego, sem dinheiro e isso só confirmou minha posição. Concordo com você que a cultura do povo é o que caga com tudo. A única coisa que me segura aqui é que a mãe do meu filho não sai, infelizmente.

    Que bom que está dando certo pra vocês, brother. Keep it up.
    Que Dendi te abençoe!

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  10. Gostei! uma visão "realista" de quem opta por sair do conforto da mesmice e se aventurar a novos desafios. 😘😘

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  11. Porreta, Rodrigo! Gostei muito dos contrastes e semelhanças! Tenho um grande amigo polonês aqui em Dartmouth e acho que pude entender bem tua excelente análise. Manda bala! Escreve mais! Abs

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  12. Eae Kensha! Só agora descobri seu Blog.
    Que bom que ta sendo uma experiência muito boa pra vc estar aí, de verdade!
    No aguardo de mais postagens :D

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